A Amazônia pré-colombiana era mais densamente povoada do que imaginávamos.
Quando se fala em
Amazônia o imaginário popular retrata-a como um mar de verdejantes árvores e
habitada por povos indígenas com costumes inalterados desde os primórdios dos
tempos. Porém parece que nem sempre foi assim.
O arqueólogo Michael
J. Heckenberger, escavou uma rede de cidades, aldeias e estradas que
proporcionavam, segundo ele, a sustentação de uma população aproximadamente 20
vezes maior que a atual. Haviam “povoados antigos, [com] jardins, campos
cultivados e pomares que caíram em desuso quando as epidemias trazidas pelos
exploradores europeus dizimaram as populações nativas”.
As pesquisas de
Heckenberger corroboram com a narrativa de Gaspar de Carvejal, um missionário
europeu que escreveu as crônicas da primeira expedição espanhola pelo rio Amazonas
em 1542 que disse ter vislumbrado cidades fortificadas, estradas largas com boa
manutenção e muitas pessoas. Carvejal afirmou ter passado por ilhas tão
densamente povoadas que em uma certa ocasião os nativos foram encontrar os
espanhóis no rio utilizando uma média de 200 canoas carregando em entre 20 a 30
índios cada uma, algumas continham até 40.
Outras pesquisas
arqueológicas atuais realizadas na ilha de Marajó, Santarém e Manaus indicam
que as tribos interagiam em sistemas de comércio que se espalhavam até
localidades remotas.
Em 1720, o guarda
de fronteira Antonio Pires de Campos descreveu uma paisagem densamente povoada
na cabeceira do rio Tapajós, pouco a oeste de Xingu. Segundo ele “Esses povos
existem em número tão enorme que não é possível contar seus povoados ou
aldeias, [e] muitas vezes em um dia de marcha passa-se por 10 a 12 aldeias, e
em cada uma há de 10 a 30 habitações, e dentre essas casas há algumas que medem
30 a 40 passos de largura ... até mesmo suas ruas, que eles fazem bem retas e
largas são mantidas tão limpas que não se encontra nenhuma folha caída”.
Michael J.
Heckenberger afirma que “A identificação de grandes núcleos populacionais
espalhados por uma área compatível à Sergipe, sugere que havia, no mínimo, 15
agrupamentos espalhados pelo Alto Xingu. No entanto, como a maior parte da
região não foi estudada, a quantidade correta pode ter sido muito superior...
nos séculos que antecederam a descoberta da América pelos europeus... a escola
dos povoamentos sugere uma população muito superior à atual, chegando de 30 a
50 mil indivíduos”. Os antigos xinguanos parecem ter construído um tipo de
urbanismo de estilo verde, uma incipiente cidade-jardim.
Com a retomada do
desenvolvimento do sul da Amazônia, agora realizado pela civilização ocidental,
a floresta amazônica está se transformando em áreas cultivadas e de pastagens,
nesse ritmo em poucas décadas a floresta se reduzirá a 20% da sua área
original, o que restar ficará restrito a reservas como a do Xingu e a pujança
populacional antigamente existente se reduzirá a um punhado de dezenas de
índios.
FONTE: Scientific
American Brasil.
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