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Cachimbos encontrados em Alenquer ajudam a entender a cultura do homem pré-histórico da Amazônia.

Cachimbo falomorfo (esq.) com 11 cm de comprimento coletado em Alenquer.
Cachimbo antropomorfo tapajó (dir.) com representação de figura feminina
      Os cachimbos resgatados em sítios arqueológicos da Amazônia evidenciam que o hábito de fumar faz parte da cultura da região desde a Pré-história. Devido ao potencial alucinógeno de algumas ervas, especula-se que o fumo tenha sido introduzido na vida das tribos por meio de rituais para propiciar a comunicação com seres sobrenaturais. O tabaco, no entanto, era a substância mais consumida. Para investigar os usos sociais do fumo aliados ao processo material de produção dos cachimbos, a arqueóloga Gilma d'Aquino, do Museu Paraense Emílio Goeldi, examinou durante dois anos o acervo da instituição.
     O museu, fundado em 1866 para abrigar o patrimônio científico relativo à Amazônia, possui uma coleção de cachimbos coletados nas décadas de 1930 e 1940. No entanto, até hoje só haviam sido realizados estudos sobre a estética dos artefatos. "Os cachimbos sempre chamaram minha atenção", revela a arqueóloga, que analisou 143 peças datadas em cerca de 900 anos a.C. com base na decoração e em técnicas de confecção. Ela admite que, além da falta de evidências sobre os grupos que utilizaram os cachimbos, o maior desafio foi transformar em um trabalho científico o material coletado sem metodologia.
   "Observei que as duas áreas com maior concentração de cachimbos cerâmicos eram Santarém e Alenquer (PA)", conta. "Apesar de serem regiões muito próximas, os cachimbos encontrados eram diferentes." Santarém era habitado pelos índios Tapajó, que usavam cachimbos angulares caracterizados por vértices. O atual município de Alenquer abrigava indígenas que viviam em sambaquis -- acumulado de conchas em forma de cone -- e fabricavam cachimbos de forma tubular.
     Entre os 26 cachimbos tubulares analisados, 12 se destacam pela forma alusiva ao órgão sexual masculino. São os primeiros cachimbos falomorfos descobertos no Brasil e especula-se que estivessem ligados a rituais de fertilidade. Até então, a forma fálica só havia sido encontrada em um ídolo de cerâmica da cultura marajoara. O curioso, como ressalta d'Aquino, é que, apesar de terem sido coletados há quase 50 anos, somente agora os cachimbos foram classificados como falomorfos. Além disso, ela observa que os artefatos apresentam uma rara ocorrência da forma fálica em objetos pré-históricos brasileiros, o que se opõe às recorrentes representações decorativas do ato sexual em registros rupestres e artefatos cerâmicos.
     Também foram analisados um cachimbo antropomorfo (com forma humana), seis zoomorfos (com formas de animais) e dois compostos (com características angulares e tubulares). Segundo d'Aquino, a originalidade do estudo consiste em relacionar o hábito do fumo ao processo de confecção dos cachimbos. Ela também elaborou um catálogo com todos os cachimbos do acervo do Museu Goeldi. "Achei de suma importância para estudos comparativos", justifica a pesquisadora, que pretende dar continuidade ao estudo no futuro. 
FONTE: Raquel Aguiar. Ciência Hoje on-line

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